Quando estamos aprendendo a tocar viola caipira, logo queremos partir para a parte prática e muitas vezes esquecemos da teoria. Pode até não parecer, em primeiro momento, mas a teoria pode ajudar muito na parte prática. Um desses casos é saber as partes da viola caipira. Portanto, continue lendo e saiba todas as partes que integram a viola. Confira!
Muito difundida na música popular brasileira, a viola caipira também é conhecida sob os nomes de viola sertaneja ou nordestina, cabocla ou viola brasileira.
Em geral, a viola é composta por 10 cordas agrupadas em 5 ordens de cordas duplas. É possível encontrá-la também com 12, sendo 3 pares e 2 cordas triplas, como também podem ter 11, 9, 8, 7, 6 e até 5 cordas, mantendo assim a ideia de 5 ordens.
Os pares da viola são afinados normalmente em uníssono e oitavas, e seguem o padrão Mi, Si, Sol, Mi e Si. As cordas são sempre de aço, ao contrário do violão que também pode ser tocado com cordas feitas de nylon.
A viola caipira pode ser tocada com os dedos, mas frequentemente usa-se dedeiras. E apesar do seu corpo ser menor do que de um violão, a viola caipira produz um som mais agudo quando comparado com o som do violão.
Partes da Viola Caipira
As partes da viola caipira são bem parecidas com a de um violão. São elas:
Mão: Geralmente responsável por fixar as tarraxas.
Tarraxas (viola moderna) ou cravelhas (viola fabricação antiga): São 10 tarraxas ou cravelhas e cada uma agrupa uma corda. Sua função é esticar ou afrouxar as cordas para chegar a afinação desejada.
Pestana “fixa”: Inicia o braço da viola e separa as cordas horizontalmente.
Braço: Vai da mão até a boca da viola. No braço ficam as casas e tarraxas responsáveis pela separação harmônica.
Casas: Separa o braço e divisões harmônicas.
Trastes: Divide as casas.
Boca: Orifício no corpo para amplificação do som.
Mosaico: Desenho ao redor da boca.
Corpo ou caixa acústica: Amplifica e reproduz o som do instrumento.
Cavalete: Encaixe e fixação das cordas e rastilho no corpo do instrumento. Sua função é receber as cordas e transferir a vibração através da boca.
Rastilho: Apoio das cordas no corpo do instrumento.
Rondana: Apoia a correia do instrumento.
Embora a viola seja o instrumento que moveu os jesuítas desde o século XVII, por suas missões evangelizadoras nos rincões do Brasil, o instrumento demorou para se consolidar no mercado fonográfico brasileiro. Algo que se dá apenas na década de 1950.
Um dos ritmos mais conhecidos tocados com a viola caipira é o pagode, criado pelo músico Tião Carreiro, em 1960, ano em que lançou a famosa música Pagode em Brasília.
Você Sabia?
Uma das pioneiras em exibir trabalhos criativos e precisos nas violas brasileiras, foi a viola de Queluz, determinando um conceito artístico adotado por diversos fabricantes posteriores a sua época em Minas Gerais, e em demais regiões do Brasil.
Fabricada principalmente pelas famílias Meirelles e Salgado entre as décadas de 1930 e 1940, sua construção era feita no padrão espanhol, onde a base do braço do instrumento era esculpida para também ter a função de calço, fazendo o contato com o tampo, fundo e laterais.
As laterais eram encaixadas diretamente no calço, e para tanto, faziam-se sulcos nos dois lados. As partes da viola eram coladas com cola derivadas de tecido animal, e envernizadas com verniz goma laca, também de origem animal, resultando em um acabamento primoroso.
Na maioria das violas de Queluz, as 12 cordas seguem o padrão de 2 ordens triplas e 3 ordens duplas.
As madeiras utilizadas na fabricação das violas eram adquiridas de caixas que transportavam dinamites para a Companhia de Minério de Manganês do Morro da Mina, e também de dormentes da Estrada de Ferro Central do Brasil. Estas madeiras eram cortadas, separadas e somente utilizadas em determinados períodos lunares.
Entretanto, a característica que mais chama a atenção nas violas de Queluz é a criatividade no trabalho de marchetaria (arte ou técnica de ornamentar a superfícies planas através da aplicação de materiais diversos). Executadas com extrema perfeição no tampo do instrumento, a inserção de lâminas de madeiras, aplicadas em conjunto ou não, davam formas a setas, sinos, folhas, ramos circulares e outros elementos nascidos da fértil imaginação dos fabricantes. Também a escala, o cravelhal e o cavalete eram adornados com peças feitas de osso da canela do boi.
Inclusive, a quantidade de “bordados” era fator determinante no preço da viola. As violas que tinham o tampo mais trabalhado eram vendidas a um preço bem superior ao das violas mais simples, que costumavam ter um único desenho abaixo do cavalete. Outro fator importante era a quantidade de “bocas” ou furos, que variavam de uma a cinco.
Os instrumentos mais trabalhados costumavam ser encomendados diretamente na oficina do fabricante, que poderia atender o violeiro de acordo com suas especificações, inclusive bordando com marchetaria as iniciais do tocador no tampo da viola, para que ficasse personalizado.
As violas de Queluz ganharam reconhecimento nacional e internacional. A fama também chegou a literatura. Em diversos trechos de Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, é mencionado a viola: “Queria ouvir uma bela viola de Queluz, e o sapateado de pés dançando” (pág 463).
Nos anos 40, com início da produção em série de instrumentos musicais por grandes fábricas, como Tranquillo Giannini e Del Vecchio, bem como o desinteresse dos descendentes dos principais fabricantes em continuar com o oficio da fabricação dos instrumentos de forma artesanal, a fabricação das violas em Queluz de Minas (já Conselheiro Lafaiete) entrou em declínio, até sua total extinção anos mais tarde, sendo hoje em dia, um instrumento raro com muito poucas peças ainda espelhadas, principalmente no interior de Minas Gerais.
A inspiração do trabalho rebuscado dos antigos artesãos das violas de Queluz pode ser interpretado como herança do Barroco Mineiro, já que o alto grau de ornamentação nas obras é sua principal característica. Portanto, devemos preservá-las como patrimônio histórico e artístico de Minas Gerais.
Fonte: Max Rosa